Dias que se uniformizam


A expensas suas, em 1943, Irene Lisboa editou um livro a que chamou «Apontamentos». Consegui encontrar num alfarrabista ainda um exemplar, a capa em papel alaranjado, muito fininho para sair mais barato. Para tentar que a sua obra tivesse divulgação, esforço inglório aliás, a autora editava uns folhetos acompanhados de um cartão. «Apontamentos (...) são romance concentrados», dizia, explicando que «o seu preço são 15$00, incluindo embalagem, porte e cobrança (O mínimo que o actual custo de papel e mão-de-obra permitem».
O exemplar que agora leio, deste livro que começa «eu tenho uma mentalidade ingénua! Estou sempre disposta a ver as coisas sentimentalmente», esse exemplar dizia, para poupar o outro à usura das minhas mãos, é um dos que a Editorial Presença publicou em 1998, há vinte anos. «Um escritor não pode viver, publicar, subsistir sem a atenção e a simpatia dos seus leitores. A expansão da sua obra depende do interesse que lhe dispensa quem a lê. Querendo V. Ex.ª ter a bondade de espalhar as poucas circulares que aqui junto, contribuirá gentilmente para a difusão de "Apontamentos"», escrevia ela, a, como se doridamenete a oferecer-se para que a quisessem. Eis o que faço neste blog, por amor a esta mulher. Queiram ter pois, meus leitores, a gentileza de espalhar.
Encerrado que estou há uma semana, tal como ela «ando com o cansaço de ontem e de anteontem, de uma série de dias que se uniformizam».