tag:blogger.com,1999:blog-24564813945868452412024-02-19T06:58:53.838+00:00Irene LisboaJosé António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comBlogger24125tag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-21082229369293570832023-11-26T14:45:00.000+00:002023-11-26T14:45:10.268+00:00Irene Lisboa: uma conferência sobre o ensino infantil<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3FB81vldBTSIAsmo3yiC8nSYLG1ChqXgOqkA2hbU-IBdmIj57zHVbMnTj-sWMpYKzvoA7pI3LXsd2mi8710fMbosVU6eHW_T0gusMW0ctFTfzuo5b9TCl4nAsO7XSlAlA-lwaZYmhV3JbNlIppQ3BA-AGnL3xP81Hbf5OnR5AaUjRrjvrNag_EatnybM/s1705/Confer%C3%AAncia%201131933,%20Sal%C3%A3o%20de%20O%20S%C3%A9culo-ensino%20infantil.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1240" data-original-width="1705" height="291" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj3FB81vldBTSIAsmo3yiC8nSYLG1ChqXgOqkA2hbU-IBdmIj57zHVbMnTj-sWMpYKzvoA7pI3LXsd2mi8710fMbosVU6eHW_T0gusMW0ctFTfzuo5b9TCl4nAsO7XSlAlA-lwaZYmhV3JbNlIppQ3BA-AGnL3xP81Hbf5OnR5AaUjRrjvrNag_EatnybM/w400-h291/Confer%C3%AAncia%201131933,%20Sal%C3%A3o%20de%20O%20S%C3%A9culo-ensino%20infantil.jpg" width="400" /></a></div><br />A fotografia ilustra uma conferência de Irene Lisboa no Salão do jornal O Século, sobre o tema "Os métodos e a finalidade do ensino infantil", proferida no dia 11 de Março de 1933. O original está nos arquivos do jornal, confiados à guarda da Torre do Tombo. Encontrei-a em uma página do FB dedicada à sua pessoa e obra. Com a devida e gentil permissão aqui a deixo.<br />JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-89040431972280591002019-08-05T05:52:00.003+01:002019-08-05T05:52:49.488+01:00Eugénio sobre Irene<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_g2Y4FN3MDVcnb9a1whl8yloGwP-09s89P0KyVEoqv8gWAgK0WOcurUTWfahtd31Eg5LkVN9Osy-RLrfrMhsmZw2ZhQrO2Xhsvn9SeHE-aBwUaBxUpmx0hDAH9emMHod5J7AVgohdunk/s1600/EL.jpeg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="177" data-original-width="285" height="248" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg_g2Y4FN3MDVcnb9a1whl8yloGwP-09s89P0KyVEoqv8gWAgK0WOcurUTWfahtd31Eg5LkVN9Osy-RLrfrMhsmZw2ZhQrO2Xhsvn9SeHE-aBwUaBxUpmx0hDAH9emMHod5J7AVgohdunk/s400/EL.jpeg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Leio a entrevista que Eugénio Lisboa concedeu ao <i>JL</i> desta semana. E pergunta-lhe Luís Ricardo Duarte: «Que autor gostaria de ver mais valorizado hoje em dia?». Eugénio Lisboa responde: «Irene Lisboa, por exemplo, uma enorme escritora, imensamente esquecida. Na verdade, ela nunca teve a nível público a aceitação que teve da crítica. É uma pena porque a sua obra é muito apelativa e sedutora, quase eletrizante em muitos aspetos. Lembro-me da única vez que estive com ela, precisamente com o José Régio, no Chiado, em Lisboa. Acabava de lança rum livro e comentava: "Régio, deste não vendi um único exemplar".</div>
<div style="text-align: justify;">
Leio e sinto-me reconfortado comigo ante este esforço de a ter trazido aqui desde 2007 e remorsos por o fazer tão esparsamente. E dou comigo a pensar quantos poderão, naquele permanentemente malicioso modo de ver o mundo, pensar que Eugénio lembra Irene e saúda a valia da sua obra porque o comum apelido evidenciará uma ligação de família, donde um nepotismo cultural; e quanto isso é sintoma de uma grave doença social, a do descrédito de motivos nobres e de decência no viver, evidência de uma mentalidade doentia que só se alimenta da nitreira da suspeita porque nela vive e com ela prospera.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em boa hora, pois, esta lembrança e este apelo. Irene Lisboa viu a sua obra publicada em versão quase integral pela <i>Editorial Presença</i>, com prefácio e anotação de Paula Morão. Muito pouco teve eco junto do público leitor. Pena que na colectânea que a Imprensa Nacional editou em Março deste ano com os breves textos literários de Eugénio Lisboa, sob o título <i>Uma Conversa Silenciosa</i>, não haja menção àquela magnífica escritora, pois a completar o apelo agora lançado haveria a detalhada explicação do seu porquê. Não que os possíveis leitores se entusiasmassem com isso, pois a leitura hoje, a que subsiste, segue critérios de sem razão, sim porque, a reforçar os que lêem, se acharia a visão aguda de quem, pela sua notável cultura e sentido humano, ali melhor encontraria o que ao ler folheando passa despercebido.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
+</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-size: x-small;">A fotografia pertence ao arquivo da revista <i>Visão</i>. As citações faço-as submisso à grafia que se tornou oficial, de coração apertado.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-84437241095909972502018-12-08T09:08:00.001+00:002018-12-08T09:11:45.203+00:00Título qualquer serve<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA73srXNkoKB37E7kyWo3MwaH1hlpiq0B_vQ9yFU_CMn_Dil2H37XRlAzMbbQgNDlNZvI_1v4yCthOPNLTSSsajzwNnFNxucjcDFLygSf-6OKBM20Fuw6aFddCKy9pDIbHeqQIG-S5Lq0/s1600/fb_9897.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="665" data-original-width="433" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgA73srXNkoKB37E7kyWo3MwaH1hlpiq0B_vQ9yFU_CMn_Dil2H37XRlAzMbbQgNDlNZvI_1v4yCthOPNLTSSsajzwNnFNxucjcDFLygSf-6OKBM20Fuw6aFddCKy9pDIbHeqQIG-S5Lq0/s400/fb_9897.jpg" width="258" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Regressei ontem aqui. Ter insónias tem vantagens: não conciliamos o sono, mas reconciliamo-nos com o mundo que deixámos na sonolência que é o quotidiano, ilusão de vida desperta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Fui buscá-lo à estante. Li-o na edição da Presença, aquela que amorosamente Francisco Espadinha editou, bem como à obra [quase] completa, hoje, diria, totalmente esquecida. </div>
<div style="text-align: justify;">
Recordo aqui a capa do original que ainda não consegui encontrar, eu que procuro reunir todos os seus livros, os primeiros ainda com pseudónimo masculino, tantos e tantos em edição de autor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Irene Lisboa já não o viu publicado pela Portugália, trazida à luz no ano de 1958, ano em que, no mês de Novembro, faleceria. </div>
<div style="text-align: justify;">
Iniciei a leitura e, ei-lo, o pequeno e profundo mundo vindo de uma janela de um comum existir, mas olhado com uma tal delicadeza de sentimentos e recato de sensibilidade que só a revolta contra a solidão consegue turbar. </div>
<div style="text-align: justify;">
Livro tristonho, como tanta da sua escrita, livro de cansaço, livro, como a sua personagem inaugural, de quem «já não sabia ter desgostos». Livro sobre os pobres que são bandeira de uma causa, que «as pessoas vão-se acostumando à pobreza. Então não vão? Vão-lhe caindo a pouco e pouco nas garras. Cada dia se vão sentindo mais pobres, mais pobres...e vão adquirindo novos hábitos.».</div>
<div style="text-align: justify;">
Há neste momento de escrever doçura e, no modo de, pela Literatura, ver a vida, infinito amor por consumir, «inspiração de uma mulher que se vê com uma janela escancarada à frente e com o coração oprimido».</div>
<div style="text-align: justify;">
Li dois dos seus contos, diria, duas das suas narrativas. Guardei perto para retomar. Sem a complexidade labiríntica de Clarice Lispector, há, logo no texto que inaugura a obra, <i>O Limão</i>, algo que lembra a autora de <i>A Mulher que matou os peixes</i>. <span style="font-family: inherit;">E por falar nela, veio à mente o que escrevi [<a href="https://haialispector.blogspot.com/2011/04/nao-importa-quanto-tempo-levamos-ler-um.html">aqui</a>] e que tanto de aplica ao que uma noite de insónia me fez viver: «Não importa quanto tempo levamos a ler um livro nem se interrompemos a leitura, como quem passeia e se senta em cima de uma pedra ou decide adormecer num momento da viagem. Não importa se não lemos todos os livros que há para ler, nem se somos ignorantes em relação aos "incontornáveis" como dizem alguns ditadores do gosto e tiranos da erudição obrigatória.». Não importa, de facto.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-38226948719930295662017-12-09T09:58:00.004+00:002017-12-09T09:58:54.738+00:00Irene Lisboa e a "Vértice"<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvnQWrsmEGs6OvuXUzHVk0t-1LoqTq4feCepbrwMIvB7p2aIigoR4ehBT-qrb9uaYwDUTnrYWN7vm0tGrhwCuYPAQm_J8hAtypgskrXXanfciEM_46EmsJ2mFH6o8nAJxAagQBhVbrOgo/s1600/Irene-Lisboa-V%25C3%25A9rtice.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="234" data-original-width="319" height="233" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjvnQWrsmEGs6OvuXUzHVk0t-1LoqTq4feCepbrwMIvB7p2aIigoR4ehBT-qrb9uaYwDUTnrYWN7vm0tGrhwCuYPAQm_J8hAtypgskrXXanfciEM_46EmsJ2mFH6o8nAJxAagQBhVbrOgo/s320/Irene-Lisboa-V%25C3%25A9rtice.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
Criei este blog em homenagem a uma escrita cuja leitura caiu em desuso. Creio que já disse aqui: por ser uma escrita triste e haver quem evite esse veneno doce que é a nostalgia da alma. E também porque é uma escrita de um mundo que já só deixa vestígios, o de uma Lisboa e um país cujos recantos hoje são outros. </div>
<div style="text-align: justify;">
Muitos, aquartelados sob a bandeia do neo-realismo não lhe perdoaram - ela seareira, ela do MUD [e haverá quem hoje saiba o que isso significa tudo isso?] o ter escrito sobre a vida doméstica, o pequeno mundo interior, com modéstia e contenção. Supunha-se que o critério teria de passar, não pelo lamento mas pela raiva, não pelo luta individual, mas pela revolta colectiva.</div>
<div style="text-align: justify;">
Irene Lisboa pagou o custo de tanto do que editou e vendeu os livros a quem lhos quisesse adquirir. Poucos. Ficou sempre no domínio do aquém. O presente é apenas a continuação.</div>
<div style="text-align: justify;">
Dei já conta disto tudo aqui. E de como começou a escrever com pseudónimos masculinos por não haver então quem achasse credível uma mulher escritora. E como, isso sim, é triste.</div>
<div style="text-align: justify;">
Hoje, dia em que o frio abrandou, minorado pelo chuvisco, lembrei-me de há quanto tempo não vinha aqui. E fui à procura de algo mais. Poderia ir ali à estante, em busca dos livros, os da primeira edição, e muitos ainda recolhi, como quem acolhe desvalidos da sorte, ou aqueles que a bondade de Francisco Espadinha, fundador da Presença, publicou, em obra [quase] completa, sob a direcção empenhada de Paula Morão. Livros que são a minha agonia quanto a haver tempo para os poder ler.</div>
<div style="text-align: justify;">
E ei-la aqui. Curiosamente a ler a <i>Vértice</i>, a revista, fundada em Maio de 1942, que, publicada em Coimbra, era a praça forte precisamente daquele neo-realismo.</div>
<div style="text-align: justify;">
E, passeando um pouco mais por este espaço sideral, uma carta, escrita um mês antes, a Manuel Mendes, o escritor e escultor que faleceu em 1969, também seaeiro, homem do MUD</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2LA9iCxDFea76kOuHqFIrzD7lDOYhSAbkVXVP1NHUJwprJOExUv1Yk2UKm26grgdw5C5sIqNEZEXq6q2w4YBF-sVkpSWKlTNeggdIertenkN-xL-KC3Y4yQkCZeDvLy4n-uUHCl2mfe0/s1600/Irene+Lisboa-carta.png" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" data-original-height="1600" data-original-width="1294" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj2LA9iCxDFea76kOuHqFIrzD7lDOYhSAbkVXVP1NHUJwprJOExUv1Yk2UKm26grgdw5C5sIqNEZEXq6q2w4YBF-sVkpSWKlTNeggdIertenkN-xL-KC3Y4yQkCZeDvLy4n-uUHCl2mfe0/s320/Irene+Lisboa-carta.png" width="258" /></a></div>
<br />
Há quem não note que o mundo tem a paleta cromática dos cinzentos, mesmo nos anos de chumbo. São arquivistas, reduzindo o complexo à simplificação de fichas, estas por gavetas, as gavetas por armários. Tal como nos cemitérios. Estão errados, coveiros do que sobrevive, burocratas da morgue. As suas exaltações são no dia da cerimónia fúnebre, depois já nem no dia de finados.JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-28123109609997793522015-03-16T01:26:00.001+00:002015-03-16T01:27:57.479+00:00Inquérito ao livro<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"> <a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOZaAilRTR7b5CtwzeG-yJHjHHL3vWiczbyJEPuOwWf6q5KfVjodu29JhK0D9jZ3dAeNep6iaI8oPh2ZkqG7CaQ51Q7NvNV01GR1ljXpzRUwMJoP3j0t-PKiLlh904VIRiOYqj2HObG5Q/s1600/20150316_011412.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"> <img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgOZaAilRTR7b5CtwzeG-yJHjHHL3vWiczbyJEPuOwWf6q5KfVjodu29JhK0D9jZ3dAeNep6iaI8oPh2ZkqG7CaQ51Q7NvNV01GR1ljXpzRUwMJoP3j0t-PKiLlh904VIRiOYqj2HObG5Q/s400/20150316_011412.jpg"> </a> </div>JABhttp://www.blogger.com/profile/06195512146125478286noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-11246637624083074352012-07-31T18:39:00.000+01:002012-07-31T18:39:57.069+01:00A voz compungida<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0xfVxl1NABv1NgTAE8A3mdpZeFxvY8PK8NJ-081R_TisVMsxCgXbbXUQeyYH4kDnkcpJnRZh4CcsXf1z9xE8r6C5IZsWu8nMU1tNG_0mVZ6kbnE0QX2Ycoco4gM1S3U4IXCR1xbRXUYQ/s1600/irenelisboacome%C3%A7aumavida.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg0xfVxl1NABv1NgTAE8A3mdpZeFxvY8PK8NJ-081R_TisVMsxCgXbbXUQeyYH4kDnkcpJnRZh4CcsXf1z9xE8r6C5IZsWu8nMU1tNG_0mVZ6kbnE0QX2Ycoco4gM1S3U4IXCR1xbRXUYQ/s400/irenelisboacome%C3%A7aumavida.jpg" width="271" /></a></div><div style="text-align: justify;">Hoje não há lugar para histórias simplesmente tristes. Têm de ser trágicas, torrenciais de agonia. A banalização dos sentimentos exige mais. A violência já não prende o leitor que seja tele-espectador. Nem a comoção.</div><div style="text-align: justify;">Por isso um livro como <i>Começa uma Vida </i>tem destino condenado na voragem comercial das sensações. </div><div style="text-align: justify;">Mesmo o facto de ter sido escrito com nome de homem - João Falco - a mascarar ser o autor uma mulher deixou de ter importância. Talvez como sinal dos tempos se lhe dedique algures um apontamento porque foi impresso em 1940 para a Seara Nova. Quem ler não reparará certamente que a narrativa surge no feminino em contraste com o sexo do suposto autor..</div><div style="text-align: justify;">Poder-se-à dizer que não há uma condição feminina, abstracta, geral, ditada só pela anatomia ou explicada pela sociologia. Há as circunstâncias concretas em que se é mulher. Eis o resumo de uma vida. </div><div style="text-align: justify;">Mas houve algo que me fez ir ao encontro do livro e voltar a este lugar: «o amor das realidades simples domina-me, subjuga-me e talvez me enfraqueça», escreveu quase a findar.</div><div style="text-align: justify;">Eis a densidade da sua verdade. Num mundo vocal, de feminilidades assertivas, Irene Lisboa corre o risco de ter sido a voz compungida. Activa, porém, militante, arriscando e pagando o duro preço pela intervenção na vida cívica. Não foi, porém, arauto de si. </div><div style="text-align: justify;">Tinha o brio de não ser vaidosa. Era-se educado para se ser assim.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-91537331981954194562012-02-19T17:49:00.000+00:002021-08-15T12:52:09.151+01:00Anigos da Tapada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2vIaViR-KcuWKIz0gX-vZZDodRL8UoDEPBDKgTOH4el5QprdAUNsXpnfdhgwlw6lN4HKO9pdQ0y0oKI6Mg5nGYGFVE7-2sd9WMhhuaiv_S7TG5XliCzHYgAjQJ36bAFUGBDtkZ9gyNOc/s1600/irene+lisboa-8.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="296" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg2vIaViR-KcuWKIz0gX-vZZDodRL8UoDEPBDKgTOH4el5QprdAUNsXpnfdhgwlw6lN4HKO9pdQ0y0oKI6Mg5nGYGFVE7-2sd9WMhhuaiv_S7TG5XliCzHYgAjQJ36bAFUGBDtkZ9gyNOc/s400/irene+lisboa-8.jpg" width="400"></a></div><div style="text-align: justify;">Há um grupo de amigos da Tapada das Necessidades, esse lugar folhoso, recolhido, quase ignorado pela Lisboa contemporânea, a que se aborrece pelos centros comerciais, a que se deprime numa interminável sonolência. Foi <a href="http://gatnecessidades.blogspot.com/2010/11/irene-lisboa-na-tapada-das-necessidades.html">ali</a> que encontrei a fotografia, de Irene Lisboa [a terceira a contar da esquerda] e a dúvida quanto a saber se não teria sido tirada precisamente naquele local.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-1773321311254939842011-09-08T21:20:00.001+01:002011-09-08T21:22:03.499+01:00O elevador do Lavra<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5lGgNWWZ6ARzK4CCFRnrVX7ZHsoFbxrdwL704YtRo3vOP3jLPAmJ9JQtb-jKi_XabjXSQV9vzD78_T3AzEGAXMZbWNvqcDAKLhyphenhyphenxWe6Ss2zGj8fYniwrtphz4PlWOm2j7m063Zh4nVEs/s1600/irene+lisboaestacidade049+2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg5lGgNWWZ6ARzK4CCFRnrVX7ZHsoFbxrdwL704YtRo3vOP3jLPAmJ9JQtb-jKi_XabjXSQV9vzD78_T3AzEGAXMZbWNvqcDAKLhyphenhyphenxWe6Ss2zGj8fYniwrtphz4PlWOm2j7m063Zh4nVEs/s400/irene+lisboaestacidade049+2.jpg" width="270" /></a></div><div style="text-align: justify;">«Fazia sol e havia tranquilidade». E Irene Lisboa escrevia sobre o elevador do Lavra e suas gentes, gente vinda do mais recôndito como as Furnas do Monsanto, gente como a Nina, cujos requebros são convites e o Doutor Freitas, mais o guarda-freio e a varina e o ardina. E um gato «o diabo de um gato» logo «se havia de meter debaixo do enorme elevador». </div><div style="text-align: justify;">E assim começa uma história desta cidade, naquele elevador, onde «subir e descer neste veículo em cada dia do ano é cumprir uma pequena e ordinária rota, a pino, que sem exagero se pode considerar tão edificante como dar largas voltas pelo mundo». </div><div style="text-align: justify;">E são historias e histórias porque «os bairros felizmente têm um carácter mais humano que arquitectónico». </div><div style="text-align: justify;">E mora agora ali o meu Hugo e sabe e sente e pinta com tudo isso nos olhos, tal como ela os retratou em Literatura e corria o tempo da guerra, mais as árvores que se vêem ao longe, em São Pedro de Alcântara e o Torel e mais adiante a Morgue mais o Doutor Sousa Martins e a imensa capoeira à solta que dá vida ao jardim e o Instituto Alemão onde o meu Afonso, às sextas, martela declinações de uma língua que é uma forma de ter encontrado a matemática nas palavras.</div><div style="text-align: justify;">Irene Lisboa escreveu isto tudo como "João Falco". Porque na altura bicho mulher não vingava nas letras.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-22458335960738000152010-11-24T02:46:00.000+00:002010-11-24T02:46:47.664+00:00Outono havias de vir<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWrD77ctI97iOVbCbuAou-xhK-BPNAQT5wCaXxhdmAc2p0-oFKEFMypo2hiSLz9-LsDJmo_j7pOj0PsfG354Mtk63LiBzWFlpw9NaWnPzWXIfyKYo-ko6hTVdYiChOW22E3WCl9KMc-5M/s1600/sao_bernardo1.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" ox="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhWrD77ctI97iOVbCbuAou-xhK-BPNAQT5wCaXxhdmAc2p0-oFKEFMypo2hiSLz9-LsDJmo_j7pOj0PsfG354Mtk63LiBzWFlpw9NaWnPzWXIfyKYo-ko6hTVdYiChOW22E3WCl9KMc-5M/s400/sao_bernardo1.jpg" width="321" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Dediquei-lhe este blog e depois fui esquecendo que existia. Comprei, um a um, todos os seus livros. Tenho um deles aqui comigo, "Outono Havias de Vir", assinado ainda com nome masculino, o de João Falco, editado pela Seara Nova, impresso em dois de Maio de 1937. Ofereceu-o em 1946 a Manuel Guimarães. Deve ter terminado tudo em alfarrabista. Excepto as primeiras folhas está por abrir. Ao carinho de ter sido oferecido não correspondeu a amabilidade sequer de ter sido lido. Sucede amiúde assim, o desconsolo do gesto mesmo oferecido.</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-88547624599131892102010-08-03T18:37:00.000+01:002010-08-03T18:37:33.818+01:00A aldeia desterrada<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6F1lTt7Cf9ywfg_dFnrZV5axNThvKhr8FtqyZgzCSAA14vvPTr-8IznKJW3LDcrFMLCgquL980_GvMHFRt-F_qC1RKzvo2UFCKhOKUAHwuQzjHpzQR6QGQxjHiayblpjaVNF_K15a4pk/s1600/irenelisboa-voltar.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" bx="true" height="400" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6F1lTt7Cf9ywfg_dFnrZV5axNThvKhr8FtqyZgzCSAA14vvPTr-8IznKJW3LDcrFMLCgquL980_GvMHFRt-F_qC1RKzvo2UFCKhOKUAHwuQzjHpzQR6QGQxjHiayblpjaVNF_K15a4pk/s400/irenelisboa-voltar.jpg" width="262" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Foi como se soubesse que estava ali e dirigiu-se-me esta tarde a mão para a estante onde estão os livros do Vergílio Ferreira e no primeiro volume do <em>Espaço do Invisível</em>, obra de ensaios, onde vem o texto polémico que escreveu para apresentar o <em>Rumor Branco</em> do Almeida Faria, ei-lo o «em memória de Irene Lisboa». Como se um acaso fosse determinação dos meus passos.</div><div style="text-align: justify;">E li-o num instante, porque é breve, como se assim com ela me tivesse também encontrado numa aldeia na serra e no quarto andar na Rua de São Bernardo e notado o «seu porte, que tanto me impressionou, essa dignidade exterior, essa harmonia de ser, essa quase aparência de altivez que é apenas o respeito ou o orgulho de nós próprios e que traduzimos ainda pela palavra "nobreza"». </div><div style="text-align: justify;">Humilde e sério - e nele mesmo a arrogância foi sempre uma forma de se inferiorizar, oferecendo-se à voragem dos impantes - o autor do <em>Nítido Nulo</em> surpreendeu nela «a sua comunhão com os interesses do povo, bem mais quente comunhão, bem mais fecunda, do que a minha, tão pobre e tão fiscalizada pelo que eu desejava "fidelidade" a uma ideologia», ela escritora de uma cidade mas em que «a Lisboa que habita os seus livros é a que relembra a aldeia, é uma aldeia desterrada, a que preserva o eco do que é belo na verdade primitiva».</div><div style="text-align: justify;">Li para relembrar que, contra os preconceitos classistas de tantos literatos «toda a vida de gente simples não pode ser simplista» e para aprender que «<em>uma mão cheia de nada</em> só o é de <em>coisa nenhuma</em> quando o nada está em nós...».</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-40585834026565527162010-07-11T10:14:00.004+01:002010-07-11T10:22:56.733+01:00O Baile<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRBF_thpL4aCrQKrz4L0Yt21EnLlLLLjlz2YtqwJAf977lJsPaJBayhxxmJm_w_OgKrDfZrXbRZgtEhOQU4RfjPdh0100iGvsuQcp495kGheBwEjg2Lyc7OnEgsC_lU1ET-MgEkr_uwhA/s1600/irene+lisboa-5.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="400" rw="true" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRBF_thpL4aCrQKrz4L0Yt21EnLlLLLjlz2YtqwJAf977lJsPaJBayhxxmJm_w_OgKrDfZrXbRZgtEhOQU4RfjPdh0100iGvsuQcp495kGheBwEjg2Lyc7OnEgsC_lU1ET-MgEkr_uwhA/s400/irene+lisboa-5.gif" width="246" /></a></div><div style="text-align: justify;"></div><div style="text-align: justify;">Amiga, a T deu-me o livro. Tinha acabado de o encontrar num alfarrabista à Feira da Ladra. «Olha, tem aqui um conto da tua apaixonada». Queria dizer daquela por quem me apaixonei. Chamava-se O Baile. «Horizontais era o nome que ele dava às mulheres da sua roda, bonitas mas tontinhas». Ele, o Souza, da repartição onde trabalhava Olinda. Irene Lisboa escreveu. É a história de um devaneio num baile em que ninguém dançou, enlevo de vulgaridade e de monotonia numa vida dactilografada<br />
Organizado por Diaulas Riedel para a Cultrix brasileira em 1958 chama-se «Maravilhas do Conto Feminino»</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-80201934059829160322009-11-19T18:02:00.000+00:002009-11-19T18:02:35.502+00:00João Falco<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9voSqqxKnqZbn5reQQr965x9F2XZts8ifyqQZSYOEB9Um0itB-5DpT934HBn2WghrLrvRbJeMhli-XsH35_J4aLsQ45LCz6o9GWCi2Sm1Uiz9svPTg7x40txtMBrC2XG7JPhLkVNHhAg/s1600/manuscrito+irene+lisboa.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi9voSqqxKnqZbn5reQQr965x9F2XZts8ifyqQZSYOEB9Um0itB-5DpT934HBn2WghrLrvRbJeMhli-XsH35_J4aLsQ45LCz6o9GWCi2Sm1Uiz9svPTg7x40txtMBrC2XG7JPhLkVNHhAg/s320/manuscrito+irene+lisboa.jpg" yr="true" /></a><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">Será a caligrafia de Irene Lisboa, a mesma que usava pseudónimos masculinos para fazer triunfar a sua escrita feminina num mundo em que só os homens pareciam triunfar. No caso assina João Falco. Encontrei-o a<a href="http://livropelacapa.blogspot.com/2009/11/manuscrito-de-irene-lisboa.html">qui</a>.<br />
</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-68289236747668906482009-10-29T14:53:00.001+00:002009-10-29T14:55:02.303+00:00Contarelos<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiurbdSI-sxvC3RdYovIeNOTG2qgBD4LXxMSKfgt_O7jbMowiNU6ZnZspakJKOFcg6ZUDFDCfsBpW06X4CRJhZApKfqmsvSmHnxfCPHFSUxgevpQnd5hMpkkpxdklC7DJXekkh7hIQ4_Bo/s1600-h/contarelos.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiurbdSI-sxvC3RdYovIeNOTG2qgBD4LXxMSKfgt_O7jbMowiNU6ZnZspakJKOFcg6ZUDFDCfsBpW06X4CRJhZApKfqmsvSmHnxfCPHFSUxgevpQnd5hMpkkpxdklC7DJXekkh7hIQ4_Bo/s320/contarelos.jpg" vr="true" /></a><br />
</div><div style="text-align: justify;"><br />
</div><div style="text-align: justify;">A capa é inocente. «Irene escreveu e Ilda ilustrou», «para a gente nova», acrescenta a folha de guarda. O texto é seu, as ilustrações da sua colega e amiga, professora também, Ilda Moreira. Sabe-se mais sobre ela enquanto artista, <a href="http://artistasportugueses.blogspot.com/2009/05/ilda-moreira.html">aqui</a>, porque há pessoas dedicadas e generosas. <br />
</div><div style="text-align: justify;">Permito-me citar: «Entre os livros com ilustrações suas contam-se: - <em>13 Contarelos</em>, escrito por Irene Lisboa, Livraria Sá da Costa, 1926. - <em>Vida escolar de Crianças de Cinco Anos e Meio a Sete</em>, (na Revista Escolar) Abril de 1926. - <em>Modernas tendências da educação</em>, escrito por Irene Lisboa, Edições Cosmos, 1942. - <em>A Vidinha da Lita</em>, escrito por Irene Lisboa, 1ª ed. Coimbra: Atlântida, 1971. - Lisboa [ Visual gráfico : [vista da rua de São Bernardo, ca 1942], Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 1993. - Ilustração para uma versão não publicada do conto <em>O entrudo de Carnaval</em>, escrito por Irene Lisboa, Instituto da Biblioteca Nacional e do Livro, 1993».<br />
</div><div style="text-align: justify;">O livro é de um formato amigável, em oitavo, papel muito pobre que hoje mal resiste ao tempo. Impresso na tipografia da Escola Normal Primária, edição das autoras, distribuído pela Livraria Sá da Costa, a mesma que hoje vende, com a tristeza do que está moribundo, os restos que ainda sobram.<br />
</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/04958970604904404916noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-64759867490380090682008-06-21T20:21:00.006+01:002008-12-08T23:48:33.743+00:00A minha Adelina<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyGIs_QynUUp7cC2AlbKZb3FcDoqg6OM-fIJ35GUrosOUPskNBjzyP2k0lBxa2BIGze7IOTGAV-LkPGrqlG9_dlYGaiCExjOCrwsxlWjaGvQgMOfYcJgEmOJ7az3IalrZ88rL43oTJVog/s1600-h/anan%C3%A1s"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5214424454891655714" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjyGIs_QynUUp7cC2AlbKZb3FcDoqg6OM-fIJ35GUrosOUPskNBjzyP2k0lBxa2BIGze7IOTGAV-LkPGrqlG9_dlYGaiCExjOCrwsxlWjaGvQgMOfYcJgEmOJ7az3IalrZ88rL43oTJVog/s400/anan%C3%A1s" border="0" /></a>Há quem critique a escrita de Irene Lisboa pela sua domesticidade, a conversa sobre a mulher da fruta na esquina na Rua de São Bernardo, o senhor Manuel que «secou, que é pior que envelhecer», a «rapariga marreca mas engraçada», e tantos outros do elevador do Lavra, o Parreira, que é «dos que escorregaram para a mó debaixo», a Nina, sabedora de homens «a fingir-se de pudibunda e de devassa, a dar só a perninha como ela dizia, trazia-os todos à trela» e sempre presente a sua Adelina, que substituira a outra «que me não sabia fazer nada, nem lavar azulejos de cozinha e me dava caldo verde deslavado a todas as refeições».<br /><div align="justify">Lembrei-me disso este fim de tarde tarde, desses críticos enfastiados, ausentes dos lugares «onde a vida varie», fruto da clausura insolente e da alienação noctívaga. Talvez por ter almoçado sardinhas no senhor Manuel e porque comecei faz pouco o meu jantar a comer rodelas de ananás que a minha Adelina, que se chama outro nome vindo dos tempos medievais, me deixou ficar, dizendo com aquele modo bonito de dizer: «sabe o senhor José António que comer ananás faz as pessoas felizes? Tem um produto que eu não lembro o nome». «Não faz mal», respondi eu então, enquanto revia provas de um livro, «desde que me faça feliz».</div></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-51805129705911484812008-06-04T23:02:00.002+01:002008-12-08T23:48:33.832+00:00O burro velho<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgITHCy17qkVQC4-jr0KCdAHGXgp64HpTTi0s5uzBlqLVVrQf8OCifhDU4yVhfIBFJDeRZtx4U-abLD2zUpOstRr_oTSerT9teeAHe5s1pz91eEHyMSWNa3NWVIt1zQWLsTsiBDSE-3IcE/s1600-h/chamin%C3%A9+da+mota.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5208151552201260530" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgITHCy17qkVQC4-jr0KCdAHGXgp64HpTTi0s5uzBlqLVVrQf8OCifhDU4yVhfIBFJDeRZtx4U-abLD2zUpOstRr_oTSerT9teeAHe5s1pz91eEHyMSWNa3NWVIt1zQWLsTsiBDSE-3IcE/s400/chamin%C3%A9+da+mota.jpg" border="0" /></a> O comboio partia às 11:47 de Campanhã e eu ainda tinha de apanhar a ligação em São Bento. Vinha do Tribunal, de um julgamento que não houve, ofegante a subir a calçada. </div><div align="justify">Senti-a, por ali, tentadora, e ei-la de súbito: a livraria das livrarias, a Chaminé da Mota. </div><div align="justify">Contava os minutos, arriscava perder o comboio, mas o desejo era mais forte. </div><div align="justify">O que queria? Nem sabia. Tinha querido entrar e estava ali. «<em>Procura algo?</em>», perguntou-me, amável, o dono. Nem sei como surgiu, mas ripostei: «<em>Irene Lisboa!</em>». </div><div align="justify">Estavam lá em baixo, as mulheres escritoras, todas juntas, em gineceu literário. </div><div align="justify">Enervado com a pressa, tartamudeando o «<em>já tenho quase tudo dela</em>», acrescentei, sem ser necessário um «<em>deram-me agora mais uns quantos</em>», e com o empregado em expectativa, deitei a mão a um «<em>Queres Ouvir? Eu Conto</em>», editado pela Portugália do Agostinho Fernandes.</div><div align="justify">Tenho-o agora aqui comigo, impossível lê-lo esta noite, porque vai ser mais uma madrugada de trabalho obrigatório.</div><div align="justify">«<em>Tinham deitado um burro à margem, um burro velho. Que carga de ossos tão triste</em>». Começa assim o primeiro conto. Sou eu!<br /></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-89221515430446198422008-02-25T17:53:00.006+00:002008-12-08T23:48:33.930+00:00Dias que se uniformizam<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNP9yZnsZoiuVbrEYe2PURVeIEwdya2t-SqgWAsytn4IQ0yyfaK4MBc68IvKMOTDKTSmVcy6nTKgugZlAXE5mRXhSEpai0zXAPSXWQEohJfyKawd6LBZj0BYyUotgFvUxPtnPVVTWTX4Y/s1600-h/Apontamentos.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5170982336016198850" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgNP9yZnsZoiuVbrEYe2PURVeIEwdya2t-SqgWAsytn4IQ0yyfaK4MBc68IvKMOTDKTSmVcy6nTKgugZlAXE5mRXhSEpai0zXAPSXWQEohJfyKawd6LBZj0BYyUotgFvUxPtnPVVTWTX4Y/s400/Apontamentos.jpg" border="0" /></a><br /><div align="justify">A expensas suas, em 1943, Irene Lisboa editou um livro a que chamou «Apontamentos». Consegui encontrar num alfarrabista ainda um exemplar, a capa em papel alaranjado, muito fininho para sair mais barato. Para tentar que a sua obra tivesse divulgação, esforço inglório aliás, a autora editava uns folhetos acompanhados de um cartão. «<em>Apontamentos (...) são romance concentrados</em>», dizia, explicando que «<em>o seu preço são 15$00, incluindo embalagem, porte e cobrança (O mínimo que o actual custo de papel e mão-de-obra permitem</em>».</div><div align="justify">O exemplar que agora leio, deste livro que começa «<em>eu tenho uma mentalidade ingénua! Estou sempre disposta a ver as coisas sentimentalmente</em>», esse exemplar dizia, para poupar o outro à usura das minhas mãos, é um dos que a Editorial Presença publicou em 1998, há vinte anos. «<em>Um escritor não pode viver, publicar, subsistir sem a atenção e a simpatia dos seus leitores. A expansão da sua obra depende do interesse que lhe dispensa quem a lê. Querendo V. Ex.ª ter a bondade de espalhar as poucas circulares que aqui junto, contribuirá gentilmente para a difusão de "Apontamentos"»</em>, escrevia ela, a, como se doridamenete a oferecer-se para que a quisessem. Eis o que faço neste blog, por amor a esta mulher. Queiram ter pois, meus leitores, a gentileza de espalhar. </div><div align="justify">Encerrado que estou há uma semana, tal como ela «<em>ando com o cansaço de ontem e de anteontem, de uma série de dias que se uniformizam</em>».</div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-25949574836280869962007-09-23T18:54:00.000+01:002008-12-08T23:48:34.053+00:00Outono havias de vir<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiD61Uffp6fsGKh3vrhwSpLW2TBkvdCjee1iPQ5G7_LP3bHh8M6L_32Tga9Xc8MRefwszRhUfgYIqENr_PQGcE9DKVRkM-urtCcpzPmuykCskJxgGQ3O2hWQwvSc-iAv9tW_tIWm9t9iMI/s1600-h/Irene+Lisboa-V.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5113463433252025010" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiD61Uffp6fsGKh3vrhwSpLW2TBkvdCjee1iPQ5G7_LP3bHh8M6L_32Tga9Xc8MRefwszRhUfgYIqENr_PQGcE9DKVRkM-urtCcpzPmuykCskJxgGQ3O2hWQwvSc-iAv9tW_tIWm9t9iMI/s320/Irene+Lisboa-V.jpg" border="0" /></a>Fui a Arruda dos Vinhos assistir a uma comovida homenagem a Irene Lisboa: <a href="http://www.fcsh.unl.pt/facesdeeva/eva_arquivo/revista_8/eva_arquivo_numero8_b.html">Paula Morão</a> que se doutorou sobre a autora de «Voltar atrás para quê?» e Violante Magalhães, que tem estudado a sua obra pedagógica, um documentário da RTP com Vergílio Ferreira, Alexandre O'Neill, tantos outros, amigos, fiéis, remanescentes. Cheguei a casa com a ânsia de ler o opúsculo que a edilidade a propósito editou. Li-o, num ápice, tal como escutara, uma a uma todas as palavras, esta tarde.<br /><div align="justify">Citando a professora Paula Morão, eis-me como se ante o «discorrer irregular e líquidode um pensar, que se organiza, como é típico da poesia, pelo ritmo ondeante da composição«. </div><br /><div align="justify">Belas palavras estas, escritas para recordar os belos sentimentos vividos, num bom dia de domingo.</div></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-14732337294204154932007-09-22T11:02:00.000+01:002008-12-08T23:48:34.168+00:00Comemorações da Biblioteca Irene Lisboa<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg3cLStpltAjcD4tD3FIL41prr6AiW_qi0OnwJpivq6Wg99qR7T0qzv0g-mrb-wg8JJZFBYkfgdr-pg85Rux_xzBz409auAs0iSVYSArajyS79yldI-ojmqS906tT4fZVImvXL_hfswkY/s1600-h/143_biblioteca.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5112967338759533218" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhg3cLStpltAjcD4tD3FIL41prr6AiW_qi0OnwJpivq6Wg99qR7T0qzv0g-mrb-wg8JJZFBYkfgdr-pg85Rux_xzBz409auAs0iSVYSArajyS79yldI-ojmqS906tT4fZVImvXL_hfswkY/s320/143_biblioteca.gif" border="0" /></a>A Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos leva a cabo, já <strong>amanhã</strong>, domingo, as Comemorações do XVIII Aniversário da Biblioteca Municipal Irene Lisboa, Auditório Municipal - Centro Cultural do Morgado.</div>Eis o programa:<br /><br />15.00h - Leitura de textos de Irene Lisboa, pela cantora lírica Ana Ester Neves,<br />acompanhados à flauta por Vasco Gouveia<br />16.00h - Coffe Break<br />16.30h - Colóquio sobre Irene Lisboa com a Professora Doutora Paula Morão e<br />a Dra. Violante Magalhães<br />17.30h - Entrega dos prémios dos X Jogos Florais Irene Lisboa<br />18.00h - Visita à exposição sobre Irene LisboaJosé António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-17596979028184830252007-08-24T01:12:00.000+01:002008-12-08T23:48:34.278+00:00Museu Irene Lisboa: um colóquio em 23 de Setembro<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTg_r0WswyMJ54giJKnQ27XWznICeV2JVWn24HsVO84BKhgDg0i4sXFwjLq90LbCczbonAJrDWIjR3bFfHjAWuM4Lx5LrGmpPBZJKjNvVwpVhp8bOc_yeZb1FzDKCbUN3yP8n0pLZn3ro/s1600-h/museu-IL.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5102053266377054386" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhTg_r0WswyMJ54giJKnQ27XWznICeV2JVWn24HsVO84BKhgDg0i4sXFwjLq90LbCczbonAJrDWIjR3bFfHjAWuM4Lx5LrGmpPBZJKjNvVwpVhp8bOc_yeZb1FzDKCbUN3yP8n0pLZn3ro/s320/museu-IL.gif" border="0" /></a><strong> Há em Arruda dos Vinhos um </strong><a href="http://www.cm-arruda.pt/CustomPages/ShowPage.aspx?pageid=ab5bd00d-4930-4c29-b2e3-f61f2328604f"><strong>museu</strong></a><strong> dedicado a Irene Lisboa. No dia 23 de Setembro leva a cabo um colóquio e exposição sobre literatura de Irene Lisboa com a presença de: Dr.ª Violante F. Magalhães, e Professora Doutora Paula Mourão.</strong></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-40361406941179817902007-08-24T01:00:00.000+01:002008-12-08T23:48:34.474+00:00Uma casa ao abandono<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0S4GyidzPivfhtemqFoJb6VS4lRFXqKJ2mebE6g1qeZOfa5WWwFNYy3Fsnmja6znvbR2FOI8r_yhzyQody3pGo8PoFRLoIYcXGZv8z2gWynD-LrclJbbzc4Zk0iV8jlluM_heXTIKkuw/s1600-h/Irene+Lisboa-4.gif"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5102051556980070562" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh0S4GyidzPivfhtemqFoJb6VS4lRFXqKJ2mebE6g1qeZOfa5WWwFNYy3Fsnmja6znvbR2FOI8r_yhzyQody3pGo8PoFRLoIYcXGZv8z2gWynD-LrclJbbzc4Zk0iV8jlluM_heXTIKkuw/s320/Irene+Lisboa-4.gif" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>Vejo na </strong><a href="http://www.portugaldiario.iol.pt/noticia.php?id=845921&div_id=291"><strong>imprensa </strong></a><strong>que a casa onde nasceu Irene Lisboa está ao abandono:</strong></div><br /><div align="justify"><strong></strong></div><div align="justify"><strong>«Mais de 100 anos depois de Irene Lisboa ter nascido na Quinta da Murzinheira, no concelho de Arruda dos Vinhos, o espaço, propriedade dos descendentes dos irmãos da poetisa, está agora em total abandono. Pertencendo há 100 anos à família Vieira Lisboa, a casa onde a escritora nasceu na Quinta da Murzinheira «está em ruínas desde há sete anos quando se tentou comprar», relatou, à Agência Lusa, o presidente da Junta de Freguesia de Arranhó, Joaquim Luís, referindo que o imóvel permanece «sem portas e janelas» e com as «telhas a cair».<br />Localizada em A-dos-Arcos, freguesia de Arranhó, a quinta, com uma extensão de 36 hectares, estende-se por terrenos agrícolas onde continua a predominar a vinha, e mantém ainda uma adega «completamente degradada», que noutros tempos era usada como apoio aos trabalhos do campo, também retratados por Lisboa nas suas obras.<br />Rodeada de pinheiros e eucaliptos, a casa possui um pátio onde cresce «muita vegetação selvagem», em consequência do estado de abandono a que a casa está votada.<br />Museu na antiga junta de freguesia<br />Desde há vários anos que a Câmara Municipal de Arruda dos Vinhos tem vindo a estabelecer contactos com a família paterna de Irene Lisboa para comprar o espaço e «fazer ali inicialmente a casa-museu Irene Lisboa», mas «a família nunca se mostrou muito receptiva», revelou a vereadora da cultura, Gertrudes Cunha.<br />Todas as tentativas foram goradas e a autarquia inaugurou, no final de Junho, o Museu Irene Lisboa, em instalações antigas da Junta de Freguesia de Arranhó, reunindo pela primeira vez todo o acervo documental da vida e obra da poetisa. Mas continua a ser «um objectivo adquirir a quinta».<br />«O irmão de Irene Lisboa morreu há dois anos e estamos a negociar com os vários herdeiros», adiantou a autarca, explicando que a quinta está a ser alvo de partilha entre os descendentes, o que torna difícil a venda do imóvel.<br />O moroso processo de divisão dos bens foi confirmada por familiares da escritora, que se recusaram, no entanto, a prestar declarações.<br />A Quinta da Murzinheira confina com a Quinta do Monfalim, já no concelho de Sobral de Monte Agraço, também propriedade da família e cujo estado de degradação é igualmente visível.</strong></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-31703526008830860562007-07-09T00:27:00.000+01:002008-12-08T23:48:34.671+00:00Arrebatamentos<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbaSAORTQ0sH__8Gf80QhXrOicFQZN9tBqqDpgrpYX79uX018iMQixTrs0IKnB4Ms2GDmNrj0RkTL_YZvT1yyPkEcjJDYzFKWQf42_SeLf0fcZHmOaJlJENZN61dLFexwr3R857YJmucg/s1600-h/irene+lisboa-o5.BMP"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5084972047022372530" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgbaSAORTQ0sH__8Gf80QhXrOicFQZN9tBqqDpgrpYX79uX018iMQixTrs0IKnB4Ms2GDmNrj0RkTL_YZvT1yyPkEcjJDYzFKWQf42_SeLf0fcZHmOaJlJENZN61dLFexwr3R857YJmucg/s320/irene+lisboa-o5.BMP" border="0" /></a><br /><div align="justify"><strong>«<em>No convento onde fui internada aos seis anos, as coisas passavam-se de um outro modo. Lá não havia passeios nem liberdades, tudo era triste. Tanto assim que as férias me davam arrebatamentos. Foi para entrar no convento que me baptizaram. Sem filiação e com o sobrenome de ... Céu. Porque fui eu do Céu? Nunca o soube</em>». Eis, contada no livro «Começa uma vida» a infância de Irene do Céu Vieira Lisboa. A obra é ilustrada com desenhos de Maria Keil do Amaral. Fui encontrar este, uma menina pela mão de seu pai. Ser órfão é muitas vezes ser-se feliz.</strong></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-13754727865330603572007-07-08T21:40:00.000+01:002008-12-08T23:48:34.849+00:00A Rua de São Bernardo<div align="justify"><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh69fvkOVdttLoPLsrbExsGR2B-Ke-Z76qPwCrkfSsmZ3bXztYgjBuLk2vpc0mBlf2SC6D_PFDa9oz9EtXp_mvQQAR2w-c9yLzun4K8_DlpQp7KchLlRi9JXfnLtBMMBl0vcOxmFuE9KF0/s1600-h/sao_bernardo1.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5084928968500393602" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEh69fvkOVdttLoPLsrbExsGR2B-Ke-Z76qPwCrkfSsmZ3bXztYgjBuLk2vpc0mBlf2SC6D_PFDa9oz9EtXp_mvQQAR2w-c9yLzun4K8_DlpQp7KchLlRi9JXfnLtBMMBl0vcOxmFuE9KF0/s400/sao_bernardo1.jpg" border="0" /></a><strong> Subi a rua a pé olhando, o coração apertado, prédio a prédio, contando os números de porta. No 102 tinha morado, num quarto andar, Irene Lisboa. Temi que o prédio tivesse sido devorado pelo tempo, expulso por um daqueles favos a que hoje se chamam casas de habitação. </strong></div><div align="justify"><strong>Esperava-me o pior. O edifício estava lá e ostensiva via-se na parede frontal uma placa assinalando ali a presença passada de alguém. Aproximei-me para ver que era, enfim, a homenagem dos moradores, carinhosos, à lembrança amiga de ali ter morado...o ministro Baltazar Rebelo de Sousa.</strong></div><div align="justify"><strong>Quanto a ter ali habitado a autora de «Solidão», nem uma palavra de memória. </strong></div><div align="justify"><strong>Lembrei-me, ao regressar a casa, neste domingo em que um vento cruel resolveu tresmalhar a cidade de tristeza angustiosa, das palavras com que ela abre o seu livro «Começa uma vida», que assinou como João Falco e que é, afinal, o relato dos primórdios da sua existência: «Vá-se embora daqui, esta casa não é sua!».</strong></div><div align="justify"><strong>De facto não era, nem a casa nem a vida que assim a tratou. </strong></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-9406219466928459972007-07-01T00:29:00.000+01:002008-12-08T23:48:34.992+00:00Mulheres escritoras<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuvJHtDhWGHkygNi1SXj6e9TPtroTfxt-HLZIM5z6EGtfRuKqsVwl3sB1_fCMCMWv1Udl6_2oSwlNv4uMl6dFo097ZGeACXL-eXKg8UpDqnPDdupGUQyxs9dFqGREkzy-OwztbVuLFpnc/s1600-h/ondina2.jpg"><img id="BLOGGER_PHOTO_ID_5084932692237039266" style="DISPLAY: block; MARGIN: 0px auto 10px; CURSOR: hand; TEXT-ALIGN: center" alt="" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiuvJHtDhWGHkygNi1SXj6e9TPtroTfxt-HLZIM5z6EGtfRuKqsVwl3sB1_fCMCMWv1Udl6_2oSwlNv4uMl6dFo097ZGeACXL-eXKg8UpDqnPDdupGUQyxs9dFqGREkzy-OwztbVuLFpnc/s400/ondina2.jpg" border="0" /></a> <strong>Sobre Irene Lisboa escreveu <a href="http://mariaondinabraga.blogspot.com/">Maria Ondina Braga</a>, outra mulher escritora a quem dedico um blog, esta frase triste: «<em>Há menos de duas décadas, todavia, esta cidade que ela tanto celebrou, este povo de quem foi um dos mais finos e fiéis cronistas, viram-na morrer com a mesma indiferença com que a tinham visto viver</em>». A autora de «Angústia em Pequim» <a href="http://mariaondinabraga.blogspot.com/2006/12/os-reguladores-do-interesse.html">sabia</a> o que era o amargo da solidão, a ânsia de ser-se amado.</strong><br /><br /><div><div align="justify"><strong>O livro chama-se «Mulheres Escritoras», foi editado em 1980. O meu exemplar, comprado numa modesta livraria de obras em segunda mão, foi oferecido no Natal de 1981 pela tia Maria Antonieta à Guida «com um abraço apertado». Dói que tudo termine assim, entre o adelo e o esquecimento.</strong></div></div>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.comtag:blogger.com,1999:blog-2456481394586845241.post-67755319935495790112007-07-01T00:02:00.000+01:002007-07-01T00:48:13.511+01:00O comum existir<div align="justify"><strong>A cada uma das paixões um blog, onde escrevo o que bem poderiam ser cartas de amor. Amor literário, mas amor em qualquer caso, aquela devoção de leitor apaixonado.</strong></div><div align="justify"><strong>De há muito que fui reunindo, um a um, os livros da Irene Lisboa. Alguns já em alfarrabista, em mau estado, daqueles que se não encontram.</strong></div><strong>Hoje, ao ler «Esta Cidade», um livro que ela escreveu em 1942, decidi-me a reservar-lhe este espaço.</strong><br /><div align="justify"><strong>Irene do Céu Vieira Lisboa nasceu em 1892, faleceu em 1958. Usou o tempo de vida, a trabalhar como professora e a escrever sob o seu nome, como Manuel Soares, João Falco e Maria Moira uma obra hoje quase esquecida.</strong></div><strong></strong><br /><strong>A sua obra essencial é esta:</strong><br /><strong></strong><br /><strong>* Treze contarelos (publicada em 1926).<br /></strong><br /><strong>* Um Dia e Outro Dia... _ Diário de Uma Mulher (poesia) (sob pseudónimo João Falco) (publicada em 1936).<br /></strong><br /><strong>* Outono Havia de Vir (poesia) (sob pseudónimo João Falco) (publicada em 1937).<br /></strong><br /><strong>* Solidão: Notas do Punho de Uma Mulher (poesia) (sob pseudónimo João Falco) (publicada em 1939).<br /></strong><br /><strong>* Fôlhas Volantes (poesia) (sob pseudónimo João Falco) (publicada em 1940)<br /></strong><br /><strong>* Esta Cidade! (contos, Irene Lisboa [João Falco], (publicada em 1942).<br /></strong><br /><strong>* Apontamentos (publicada em 1943).<br /></strong><br /><strong>* Uma mão cheia de nada, outra de coisa nenhuma (contos) (publicada em 1955).<br /></strong><br /><strong>* Voltar Atrás para Quê? (novela) (publicada em 1956).<br /></strong><br /><strong>*O Pouco e o Muito. (1956)<br /></strong><br /><strong>* Título Qualquer Serve (novela) (publicada em 1958).<br /></strong><br /><strong>* Queres ouvir? Eu Conto _ Histórias para Maiores e mais Pequeninos (publicada em 1958).<br /></strong><br /><strong>* Crónicas da Serra (publicada em 1958).<br /></strong><br /><strong>* Solidão II (prosa) (publicada em 1966).<br /></strong><br /><strong>* Versos Amargos (publicada em 1991).</strong><br /><strong></strong><br /><strong>É uma literatura do comum existir, uma escrita de uma extraordinária existência.</strong>José António Barreiroshttp://www.blogger.com/profile/10270004027333633699noreply@blogger.com